Pangu e Nüwa: dois mitos de criação chineses

Duas histórias de mitos de criação chineses

Cheguei a estas histórias em minhas leituras sobre a história Jornada para o Oeste (que vou adaptar conforme conseguir, mas que já tem uma de suas histórias aqui).

A história de Pangu chama a atenção pela semelhança aos mitos de criação nórdico (que contamos aqui) ou babilônico (o Enuma Elish, que espero adaptar em breve). Como lá, o mundo é feito de partes do corpo de um gigante primordial (Ymir para os vikings, Tiamat para os babilônicos, para ficar com esse exemplo). Diferente de lá, Pangu não é nem mau, nem ambíguo; Pangu é bom e sua morte é serena e natural.

Nüwa traz uma outra possível versão da criação dos humanos. Eu omiti uma parte dessa história, que servia para apologia da ordem social tradicional chinesa (Nüwa cria um conjunto de humanos esculpidos, que são a nobreza, mas se cansa e cria os demais riscando a lama, os comuns — achei desnecessário). O que mais gosto dela é a impressão que passa de que o paraíso é magnífico, mas entediante, e que a imperfeição caótica do mundo é infinitamente mais bela do que a perfeição dos céus. É uma honra existir neste mundo, preferido até pela deusa!

Boa leitura!

Pangu e a criação do mundo

No início, não havia nada. O universo encontrava-se num estado indiferenciado, sem características, sem formas, sem nada. Então, por dezoito mil anos, esse nada acabou se concentrando e formando um ovo.

Agora que havia um ovo, surgiram diferenças: dentro e fora, centro e fronteira. E ao longo de dezoito mil anos, dentro do ovo, os princípios opostos se equilibraram e surgiu um gigante chamado Pangu. Ele rompeu a casca do ovo e, com um golpe de seu machado, separou yin de yang, criando o céu e a terra. E, para mantê-los separados, Pangu pisou com força na terra e empurrou o céu com os braços e as costas. A cada dia, o céu crescia três metros, a terra ficava três metros mais grossa e Pangu três metro mais alto. Isso levou mais dezoito mil anos.

Depois, Pangu morreu. Seu último suspiro formou os ventos, a neblina e as nuvens; sua voz formou o trovão. Seu corpo tornou-se o mundo que conhecemos: seus ossos são os minerais; seu pelo e cabelo, as florestas; seu sangue, os rios; seus músculos, as terras férteis; sua cabeça, as montanhas e os extremos do mundo; seu suor, a chuva; seu olho esquerdo tornou-se o Sol e o direito, a Lua. As pulgas de seu pelo, o vento levou-as e elas tornaram-se os animais.

Alguns dizem que os humanos viemos também dessas pulgas, mas outros contam uma outra história…

Nüwa e a criação dos humanos

Num belo dia, Nüwa sentiu-se entediada de passar a eternidade no Reino Celestial. Seus dias pareciam todos iguais, e ela decidiu que queria conhecer algo novo. Então, ela desceu à terra e conheceu o mundo.

Ela viu o sol nascer e iluminar a relva, e a chuva lavar a poeira e trazer vida às plantas, e os animais existindo em harmonia, e achou aquilo maravilhoso — mais belo até mesmo que o Reino Celestial.

Quando viu se reflexo na superfície da água de um rio, ela teve uma ideia. Pegou a argila fresca da beira do rio e modelou bonecos parecidos com ela. Quando ela os colocava no chão, eles saiam se mexendo e falando. E foi assim que Nüwa criou os seres humanos.

Ilustração de Pangu. Wang Qi (1529 - 1612), Domínio Público via Wikimedia Commons

Nüwa remenda o céu. Xiao Yuncong, 1596-1673, Domínio Público, via Wikimedia Commons

Crédito da imagem de capa

Wikimedia Commons contributors, "File:The Middle Kingdom; a survey of the geography, government, literature, social life, arts, and history of the Chinese Empire and its inhabitants (1900) (14765161185).jpg," Wikimedia Commons, the free media repository, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?title=File:The_Middle_Kingdom;_a_survey_of_the_geography,_government,_literature,_social_life,_arts,_and_history_of_the_Chinese_Empire_and_its_inhabitants_(1900)_(14765161185).jpg&oldid=608266180 (accessed September 10, 2022).