Chang'e e o elixir da imortalidade

A trágica história de Chang’e

A história de Chang’e, a deusa da lua no folclore chinês, é muito especial: a lua é muito admirada na cultura chinesa e o festival do meio do outono, em que são feitas oferendas a Chang’e, é celebrado até hoje.

Mas, para contar a história da deusa, é preciso contar uma outra história, de um herói que salva o mundo da destruição, seu marido, Hou Yi. Pois, sem o seu feito, ele não teria o elixir que, tragicamente, acabou por levar Chang’e até a lua. Já contamos essa história antes — não deixe de lê-la também!

Boa leitura!

Por ter derrotado os monstros e derrubado nove dos dez Sóis que assolavam a Terra, Hou Yi, o famoso arqueiro, foi presenteado pela Rainha Mãe do Oeste com uma garrafa de seu elixir da imortalidade.

Hou Yi, porém, não suportava a ideia de viver sem Chang’e, sua querida esposa. Passar a eternidade sem a sua companhia parecia-lhe uma tortura e, por isso, ele decidiu guardar o elixir até ter duas garrafas para que os dois pudessem se tornar imortais e, juntos, habitar a corte do Imperador de Jade.

O herói ainda fez muitos grandes feitos e acabou tornando-se um justo e respeitado rei em suas terras. Um dia, quando Hou Yi viajava para mediar negociações de paz entre dois reinos vizinhos, seu aprendiz, Peng Meng, invadiu os aposentos do casal em busca do elixir. Percebendo o perigo daquele poder em mãos ganaciosas como as de Peng Meng, sem saber como protegê-lo do invasor, Chang’e não viu saída senão tomá-lo ela mesma.

Imediatamente Chang’e começou a flutuar no ar, elevando-se até o céu, onde viveria agora ― onde fica o Palácio do Imperador de Jade e onde vivem os deuses e imortais. Chang’e estava aflita, pois não queria deixar seu companheiro Hou Yi, assim como Hou Yi não quisera deixá-la, e relutou contra a sua ascensão.

Vendo a sua aflição, a Lebre de Jade que mora na Lua compadeceu-se de Chang’e e puxou-a até a sua casa. Chang’e não poderia voltar à Terra, pois agora era imortal, mas pelo menos estava a meio caminho entre a Terra e o Céu, onde ainda conseguia observar o seu amado.

Quando descobriu o que aconteceu, Hou Yi ficou muito triste e montou um altar onde passou a fazer oferendas para Chang’e.

E é por isso que até hoje, no décimo quinto dia do oitavo mês lunar, as pessoas oferecem bolos da lua para Chang’e.

Fontes

São várias as versões dessas história. Nalgumas, Hou Yi e Chang’e são imortais que são punidos com a mortalidade após a morte dos Sóis, noutras Hou Yi não é um herói, mas um ganacioso vilão… Quem primeiro me apresentou a história de Chang’e foi a professora Zhou, e a de Hou Yi, a professora Ren, do Instituto Confúcio na Universidade Estadual de Campinas. 谢谢老师们!Alguns links interessantes são a versão de Mae Hamilton na Mythopedia, a animação de Aurélie Beatley no portal do Smithsonian Folklife Festival, a entrada sobre Hou Yi na Brittanica (que é bem diferente da versão que conto aqui) e a página sobre Hou Yi na Wikipedia em inglês, que conta várias das versões.

Crédito da imagem da capa

Wikimedia Commons contributors, "File:Chang'e flees to the moon by Tsukioka Yoshitoshi.jpg," Wikimedia Commons, the free media repository, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?title=File:Chang%27e_flees_to_the_moon_by_Tsukioka_Yoshitoshi.jpg&oldid=645739980 (accessed September 10, 2022).