“O grande sábio igual aos céus esteve aqui”

A história do grande salto até o fim do mundo do rei macaco

Esta história foi a que me chamou atenção para a Jornada para o Oeste.

Tentei contá-la como uma fábula mesmo, sem muito contexto nem nada. Ela não fala do motivo das punições do Rei Macaco, nem o seu destino, que é, enfim, a Jornada para o Oeste que intitula a história.

Mas ela fala de orgulho e arrogância de um jeito muito divertido. E a história da mão do Buda me fez pensar numa famosa fotografia de uma aglomerados de poeira e gás com tamanho interestelar na nebulosa da Águia. É uma história deliciosa! Boa leitura!

Conta-se que, depois de causar muita confusão no céu, Sun Wukong, o Rei Macaco, foi capturado e punido. Mas ele era tão poderoso que nenhuma das punições fizeram efeito que não o de irritá-lo. Furioso, ele começa a causar destruição por todo o céu até que o Imperador de Jade pede a ajuda do Buda.

O Buda sai do Paraíso Ocidental para atender ao pedido do Imperador e imediatamente o Rei Macaco descobre-se em pé na enorme palma da mão do Buda, olhando para o seu rosto gigantesco e sereno. Sun Wukong sabe que o Buda está ali para impedir que ele prossiga com seu ataque, e começa imediatamente a defender-se: ele narra toda a sua jornada até ali, como adquiriu cada um de seus poderes, e porque ele deveria ocupar o lugar do Imperador de Jade como governante do céu. Por fim, ele faz uma proposta: “Vou provar para você, ó Iluminado, que sou o mais poderoso que existe”, ele diz. “Posso chegar ao fim do mundo de um único salto: se assim o fizer, você me nomeará governante do céu!”

E sem esperar resposta, saltou. Ele tinha tamanha força que rapidamente riscou os céus, atravessando nuvens e cruzando o espaço, passando por estrelas e cometas até chegar a cinco pilares.

Ele olhou em volta e chegou à conclusão de que aquele era o fim do universo, de que nada mais havia além do cinco pilares. Então celebrou e gritou para ninguém mais ouvir: “Ha! Viu só? Estou aqui no fim do universo de um único salto e serei o rei do céu!”

Então ele pensou consigo que não havia ninguém para testemunhar o seu feito e decidiu fazer uma marca num dos pilares para provar que ali estivera — pois, se o universo era grande demais para alguém chegar ao seu fim, para o Buda aquilo não era nada. Então ele escreveu num dos pilares: “O grande sábio igual aos céus esteve aqui” e mijou na base do pilar antes de dar um novo salto para voltar à palma da mão do Buda e receber o título merecido.

Ao chegar ele exige a sua parte da aposta, mas o Buda pergunta-lhe até onde ele foi. Ele diz “Ao fim do universo, onde encontrei cinco pilares e escrevi meu nome no maior deles”. Mas o Buda diz que ele sequer saiu da palma de sua mão. Sun Wukong, incorformado, exige que o Buda vá até os pilares verificar, mas percebe que o chão onde está pisando está molhado. Então ele olha para os dedos do Buda e vê seu nome escrito e sua urina no chão.

O Buda então rapidamente vira a mão e estapeia a Terra com Sun Wukong com tamanha força que a maior montanha do mundo se forma sob as costas do Rei Macaco, aprisionando-o ali. O Buda então ordena que vigias alimentem o Rei Macaco durante o aprisionamento do qual ele só sairia após aprender sobre humildade.

Levaria quinhentos anos.

“Os pilares da Criação”, formação de poeira e gás na Nebula da Águia, em fotografia do Hubble de 2014. Crédito: NASA, ESA, and the Hubble Heritage Team (STScI/AURA), Public domain, via Wikimedia Commons.

Fonte

Wu Cheng’en. Journey to the West, Chapter 7: “The Great Sage Escapes from the Eight Trigrams Furnace, The Mind-Ape Is Fixed Beneath Five Elements Mountain.” In: Inner Journey to the West, 200 Images of the Journey to the West by Chen Huiguan. http://www.innerjourneytothewest.com/english/en-resource.html#chap7

Crédito da imagem de capa

O Rei Macaco escreve nos pilares no fim do mundo. Crédito: Inner Journey to the West, 200 Images of the Journey to the West by Chen Huiguan. http://www.innerjourneytothewest.com/english/en-resource.html#chap7