Hou Yi e os dez sóis
A trágica história de Hou Yi e Chang’e
A história de Chang’e, a deusa da lua no folclore chinês, é muito especial: a lua é muito admirada na cultura chinesa e o festival do meio do outono, em que são feitas oferendas a Chang’e, é celebrado até hoje.
Mas, para contar a história da deusa, é preciso contar uma outra história, de um herói que salva o mundo da destruição, seu marido, Hou Yi. Pois, sem o seu feito, ele não teria o elixir que, tragicamente, acabou por levar Chang’e até a lua.
Sem antecipar a história de Chang’e, quis trazer aqui uma versão da de Hou Yi. Não deixe de ler a história de Chang’e também!
Boa leitura!
Quando o mundo ainda era jovem, na época do Imperador Yao, dizem que não havia um único Sol iluminando a Terra, mas dez deles. Foi o Imperador de Jade, que governa o reino dos céus, quem os criou: seu propósito era o de iluminar e nutrir a Terra, e ele os fez múltiplos para que, além disso, os Sóis também pudessem descansar, estudar, praticar exercícios, meditar e realizar outras diversões.
Um dia, porém, os Sóis decidiram sair todos juntos, para continuar brincando enquanto caminhavam pelos céus, criando caos na Terra. Se hoje está quente com um único Sol no céu, imagine com dez! As pessoas desmaiavam na rua, as plantações secavam e se incendiavam, os rios secavam, deixando para trás apenas aquela terra rachada, seca. Aproveitando-se da confusão e destruição, monstros saíram de seus esconderijos e aterrorizaram ainda mais a superfície.
Diante daquela destruição, um herói chamado Hou Yi, perito no arco e flecha, foi ao palácio do Imperador de Jade e disse ao rei de todos que, se os Sóis não se comportassem, ele teria que atirar neles.
O Imperador de Jade ficou furioso: um reles mortal queria dizer-lhe o que fazer? E atirar nos seus netos, os Sóis? Mas no fundo, ele entendeu que aquela situação não podia continuar e, depois de tentar argumentar com os Sóis fanfarrões sem sucesso, com pesar, autorizou Hou Yi a fazer o que fosse necessário.
Hou Yi pegou seu arco e flecha e partiu, caçando os monstros que aterrorizavam os campos. Quando terminou, ele subiu no monte mais alto e gritou para os Sóis:
“Sóis, ouçam! Voltem para o Palácio de Jade e deixem a Terra em paz! Só um Sol pode caminhar pela Terra a cada vez!”
Mas os Sóis não deram a menor bola, mostraram as línguas para Hou Yi e mandaram-no ir pastar.
Então, ele puxou seu arco e começou a atirar flechas. Cada Sol que era atingido caía ao chão, onde se transformava num corvo de três pernas que não podia mais voar e que, por isso, corria pelo chão para se esconder. Hou Yi não errou um tiro: nove flechas derrubaram nove Sóis, que corriam como corvos de três pernas pelo chão, tentando se esconder. O último Sol, vendo seus irmãos cair, um a um, amedrontou-se e correu para dentro de uma caverna, que ninguém viu onde era.
Então ficou tudo escuro e frio, e o problema era ainda mais grave do que antes. Todos os seres vivos imploraram para o último Sol sair de seu esconderijo, mas ele estava muito assustado com Hou Yi e ignorava os pedidos. Depois de alguns dias naquela situação, porém, um galo subiu no alto do galinheiro e gritou com toda a força que tinha: “Irmão! Irmão!”, que em chinês é “Gēgē! Gēgē!”
O Sol, mesmo amedrontado em sua caverna, ouviu o chamado na poderosa voz do galo e, encorajando-se, decidiu sair de sua caverna. “Bom dia, irmãozinho!”, ele respondeu ao galo ― e desde então, quando o galo acorda, ele saúda o irmão mais velho, que se levanta para cumprimentá-lo.
Para agradecer a Hou Yi, a Rainha Mãe do Oeste, a esposa do Imperador de Jade, presenteou-o com uma garrafa de seu elixir da imortalidade, para que Hou Yi pudesse voltar ao palácio do Imperador como um imortal. Mas o elixir só dava para uma pessoa e Hou Yi não queria viver para sempre sem a companhia de sua querida esposa Chang’e.
Mas o que aconteceu depois é outra história…