A estátua dourada do Buda

A estátua do Buda é uma espécie de fábula da vida real

Ouvi essa história num podcast da Tara Brach: Radical Acceptance Revisited. Ela era narrada como uma parábola ou fábula mesmo, e quis adaptá-la imediatamente.

É uma história real, numa adaptação meio fabulosa, que serve de inspiração para quando nos esquecemos de nosso cerne mais brilhante.

Boa leitura!

A vida real é mais fabulosa do que as histórias! As histórias tem sempre que agradar o gosto de quem as ouve: precisam ter mistério, ação, suspense, precisam manipular as nossas emoções e colocar os personagens em risco. Já a vida, ela não tem sentido senão o que lhe damos, e, por isso mesmo, a sua gloriosa aleatoriedade não cabe muito bem nas histórias.

Por isso, ao narrar a vida, caótica, magnífica, bela, os narradores temos que aumentar um ponto aqui, omitir algo ali, ou às vezes inventar descaradamente uma grande mentira. Mas o importante é a história, certo? Então ouça esta história de uma estátua do Buda:

Era uma vez uma estátua, criada há muito tempo atrás, nos tempos dos contos de fadas: há tanto tempo que ninguém mais se lembra de quando foi… Pensando bem, já que não se sabe bem quando foi que a estátua foi criada, talvez seja melhor começar por quando se sabe: Havia uma estátua do Buda, muito grande e bonita, feita de cimento com vidro, brilhante e sólida. Ela representava o Buda sentado em posição de lótus, com uma mão repousando gentilmente nas pernas e outra num dos joelhos. Seus olhos quase fechados completavam a serenidade do meio sorriso pacífico.

A imensa estátua era tão importante que construíram um novo templo, ainda mais bonito e maior que o antigo, só para ela. E, quando o novo templo ficou pronto, foram necessárias muitas cordas e muitos carregadores para transportá-la — pois só a cabeça da estátua era da altura de uma pessoa adulta e ela pesava toneladas!

Mas, de repente, durante o transporte, uma das cordas se rompeu e, apesar do esforço dos carregadores, a estátua deu uma pirueta e caiu de cara no chão!

Você deve imaginar que ela disse algo a esta altura, não? Mas não foi nada disso.

Quando caiu de cara no chão, a estátua fez um imenso e terrível “crec”. O rosto do Buda ficou trincado de cima a baixo! Um dos monges disse observar algo brilhando dentro da trinca, e trouxeram lanternas e lupas e arqueólogos e o próprio rei para examinar a estátua. E eis que descobriu-se, sem sombras de dúvida, que por baixo daquele revestimento de cimento, havia ouro puro!

Depois de muita deliberação, resolveu-se que a estátua seria destruída para revelar o seu interior. Mandaram trazer especialistas dos quatro cantos do mundo e, com muito cuidado, removeram aquele revestimento de cimento e vidro, que por séculos havia lembrado milhões de fiéis dos ensinamentos do Buda, sendo honrado como o próprio Buda no interior de cada um.

E eis que, dentro daquele revestimento, havia uma estátua muitas vezes mais magnífica, de ouro maciço, imensa, formidável, belíssima, com um rosto ainda mais sereno que o de sua casca de cimento!

Acontece que aquela estátua existia há mais de quinhentos anos e, nesse tempo, já havia sido transportada mais de uma vez. E, numa época em que havia invasores naquelas terras, que roubavam estátuas de ouro e removiam-lhes as cabeças para derreter, decidiu-se cobrir a estátua de cimento para proteger o seu brilho mais precioso da maldade desses invasores. Mas, com o passar dos anos, essa história foi ficando cada vez mais com cara de só uma história, e esta também acabou se perdendo ao longo do tempo. E o brilho majestoso do ouro maciço acabou esquecido, e acreditou-se que aquela casca fosse a estátua.

E aí? Que brilho está escondido, esquecido, por baixo de camadas de cimento aí dentro de você?

Crédito da imagem de capa

Phra Phuttha Maha Suwan Patimakon (พระพุทธมหาสุวรรณปฏิมากร), a estátua de ouro do Buda do templo de Wat Traimit, em Bangkok, na Tailândia, a maior estátua de ouço maciço do mundo. Crédito: Chirag Gupta, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons